Reflexão

"Se alguém lhe disser que seu trabalho não é o de um profissional, lembre-se:

amadores construíram a Arca de Noé e profissionais, o Titanic."

Um dia a lágrima disse ao sorriso: “Invejo-te porque vives sempre feliz”.

O sorriso respondeu: “Engana-se, pois muitas vezes sou apenas o disfarce da tua dor”.


sábado, 28 de fevereiro de 2015

Tensão entre o Bispo de Campo Maior e a Maçonaria. Por Marcus Paixão

A cerca de uns dois meses começou a circular em Campo Maior alguns boatos sobre uma oposição que o atual bispo estaria sofrendo por parte de um grupo de fiéis católicos. Os boatos se confirmaram com uma carta enviada ao núncio apostólico denunciando Dom Eduardo. Como historiador e pastor Batista eu gostaria de fazer uma análise desse embate.

A polêmica entre o Bispo e o ex-vice-prefeito de campo maior vem dividindo a opinião dos campomaiorenses.
Existe um secular estranhamento entre a maçonaria e a igreja católica. Na teoria, isto é, na Lei Canônica, até hoje a Maçonaria é repudiada pela igreja romana. Na prática, na maior parte dos domínios católicos faz-se vista grossa a essa lei, o que permite que maçons ingressem livremente na igreja e convivam em paz com todos.

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Compreender e aceitar a Maçonaria tem sido um desafio para todo o cristianismo. A igreja evangélica está dividida quanto à aceitação da Maçonaria. Os evangélicos dividem-se em muitas denominações: Batistas, Presbiterianos, Congregacionais, Metodistas, Assembléia de Deus, etc. Alguns grupos, como os Batistas (toda Igreja Batista é autônoma em suas decisões), não recomendam, mas aceitam na igreja maçons, enquanto que outras igrejas Batistas não querem a menor aproximação da Maçonaria. Um fato interessante aconteceu na primeira metade do século XX, quando os Batistas do Piauí, por algumas ocasiões, realizaram reuniões religiosas no salão maçônico chamado “Pelicano”, em Teresina. 

Isso só reforça que Batistas e maçons não tiveram grandes ranhuras no passado. A tradição de maçons-evangélicos ainda é mais forte nos Estados Unidos do que aqui no Brasil. Outros grupos, como os presbiterianos, tiveram ferrenhas disputas internas. Em 1900, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) contava maçons em sua comunhão. Mas esse fato não durou muito tempo. A igreja dividiu-se por conta disso, surgindo do cisma a Igreja Presbiteriana Independente (IPI) que aceitava maçons no rol de membros. Mas em linhas gerais a maçonaria também não é vista com bons olhos no meio evangélico.

Talvez o fato da Maçonaria ser vista como uma sociedade secreta tenha levado a Igreja Católica a combatê-la a ferro e fogo –  muitas vezes erroneamente –  associando-a com rituais e práticas supostamente anti-cristãs. A imagem que se formou da maçonaria no imaginário popular tem sido mais negativa do que positiva no meio do cristianismo. Não podemos esquecer o fato de que no Brasil (mas não apenas no Brasil!) a igreja sempre exerceu grande influência na vida das pessoas. Quando a primeira fase da colonização do Brasil terminou, o país já contava com um bom número de habitantes “letrados” e de cultura eurocêntrica, com alguns maçons aportados vivendo por aqui, e assim foi se disseminando a Maçonaria no Brasil. 

A Igreja Católica, diante disso, intensificou sua pregação contra a Maçonaria. Essa prática anti-maçônica promovida pelos padres católicos talvez seja a explicação mais plausível para justificar o receio dos católicos brasileiros com a Maçonaria.

A Maçonaria, contudo, tem agregado personalidades das mais diversas áreas: dentre os governantes, George Washington e D. Pedro I eram maçons. O filósofo Voltaire e Goethe também. Na música destacamos Bethoven e Mozart. Também eram maçons os militares Napoleão Bonaparte e Garibaldi. A lista de personalidades é muito grande. A maçonaria é a maior sociedade secreta do mundo, contando atualmente com mais de seis milhões de membros espalhados pelo globo. Quanto à pergunta: a Maçonaria é uma religião? Alguns membros dizem que sim, outros dizem que não. No Brasil, a Maçonaria esteve presente apoiando a Independência, a abolição da escravidão e a proclamação da República.

A guerra da Igreja contra a Maçonaria ganhou um capítulo novo em Campo Maior (já que os embates aqui são bem antigos). No inicio de outubro foi divulgada uma carta, com a assinatura de alguns católicos, onde o povo queixava-se do bispo de Campo Maior, dom Eduardo Zieltski. Eram muitas as cobranças contra o bispo: obscuridade quanto à venda do patrimônio da igreja, maus tratos aos padres da paróquia e ao povo comum.

Mas o ponto principal da “zanga” dos católicos responsáveis pela carta era a recusa do bispo em crismar alguns jovens que participavam de uma sociedade ligada a Maçonaria: a Ordem de Molay. Quando a carta foi divulgada eu comentei sobre isso e uma rede social, afirmei as motivações, e recebi algumas críticas, mas que agora se mostram infundadas. A carta foi dirigida ao núncio apostólico do vaticano, Dom Geovanne D`aniello, pedindo providências urgentes contra o bispo de Campo Maior.

Ontem o portal Campo Maior em Foco divulgou uma carta-resposta onde o bispo de Campo Maior se dirige especificamente ao católico-maçon João Alves Filho, considerando-o o responsável pela carta que o denunciou ao núncio apostólico. Em sua resposta o bispo foi taxativo ao afirmar: “penso que toda esta raiva se deu por motivos de “DEMOLAY”. Os Demolay são ligados à Maçonaria. O bispo não permitiu que alguns jovens recebessem a crisma pelo fato da Igreja Católica se opor a Maçonaria, e isso desde os tempos mais remotos. 

E falo em termos mundiais! Enquanto instituição, a Igreja Católica Apostólica Romana condena qualquer ligação dos fiéis com a sociedade maçônica. Existem mais de 600 documentos, ao longo de 300 anos e assinados por vários Papas, condenando a Maçonaria. Em outras palavras, segundo o Vaticano, um católico romano NÃO pode ser um maçon. Por sua vez, se um maçon quiser ingressar na Igreja Católica tem que deixar a Maçonaria. Olhando somente para a “letra da lei” o bispo está com a razão. Mas o problema aqui é maior: por que somente o historiador João Alves está sendo crucificado? E quanto aos outros maçons, dezenas, centenas, que são católicos em Campo Maior? E suas esposas e seus filhos? Serão todos banidos? Se o bispo for imparcial, terá que aplicar o rigor da lei a todo maçon da Paróquia e da diocese. Ai eu quero ver peito pra isso.

Não é a primeira vez que Campo Maior vive uma guerra declarada entre Igreja Católica e Maçonaria. Na década de 1940, quando o padre Mateus chegou a Campo Maior, os maçons mais uma vez foram alvos da fúria eclesiástica. E não somente os maçons, pois os Batistas e os Espíritas também foram perseguidos. O próprio João Alves Filho, escritor e historiador como é, relata esse episódio no seu livro Mateus Rumo ao Céu. Segundo ele, padre Mateus disparava contra os maçons como uma metralhadora. Praguejava contra maçons na missa e fazia alusão ao famoso e temido “bode preto”. Chegou ao ponto de excomungar vários fiéis da igreja. Bom, mas isso foi há 70 anos… Será? Na carta do bispo, dirigido a João Alves Filho, consta uma severa punição ao historiador: “O Senhor está excluído do grupo: Encontro de Casais com Cristo (ECC); é vedado para o senhor qualquer pronunciamento público nas celebrações nas igrejas, isto é, leituras, comentários, mensagens para os falecidos, etc; durante os festejos está vedado ao senhor qualquer participação tanto na preparação como na execução do festejo”, o bispo ainda deixou subentendido, ao que parece, que João Alves não poderá participar da “Santa Comunhão.”  O bispo termina dizendo: “Estas decisões têm caráter corretivo e espero que ajudem o senhor repensar as suas posições e se converter.”

Mesmo com os cânones afirmando uma não comunhão com a Maçonaria, a igreja não deixa de ter sua parcela de culpa. Por quantos anos os maçons conviveram pacificamente na igreja de Santo Antonio, em toda a diocese, com todos os padres e com o bispo Dom Abel? Por que nunca foram avisados que estavam em desacordo com a igreja? É injusto que João Alves seja um mártir sozinho nessa cruzada medievalista. Mas ele está disposto a isso, e como os mártires do passado, já declarou que não deixará a igreja e que o bispo não tem poder sobre ele e sua fé: “O senhor não tem força para de me proibir em absolutamente NADA. A não ser que o senhor mande a polícia prender-me e colocar em mim, ALGEMAS. Se assim for a vossa vontade. Prepare-se.” Para o bem de católicos e maçons, é melhor o Papa Francisco revogar logo essa lei.

Fonte: Marcus Vinícius Costa Paixão* Pastor Batista, formado no Seminário Teológico do Nordeste – STNe Mestrando em Teologia no Seminário Servo de Cristo Graduando em História pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI Editor do jornal FOGE HOMEM

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