Reflexão

"Se alguém lhe disser que seu trabalho não é o de um profissional, lembre-se:

amadores construíram a Arca de Noé e profissionais, o Titanic."

Um dia a lágrima disse ao sorriso: “Invejo-te porque vives sempre feliz”.

O sorriso respondeu: “Engana-se, pois muitas vezes sou apenas o disfarce da tua dor”.


sexta-feira, 11 de abril de 2014

O COMBATE DA LAGOA DO JACARÉ



Mais vale a verdade do que todos os artifícios mirabolantes e subterfúgios, que escondem a realidade sobre o manto diáfano dos diletantes e bem dizentes. A experiência de voltar a viver as misérias e virtudes do passado é mais forte que a vontade de esquecer. (António Neto de Paula, professor e historiador português, mestre em História do Brasil, in Prefácio de Raízes do Piauí).


Depois de sufocar o movimento emancipacionista de 19 de outubro de 1822 e obrigar os parnaibanos a renovar o juramento de fidelidade ao rei dom João VI e á Constituição Portuguesa, o Comandante das Armas do Piauí, João José da Cunha Fidié, permaneceu em Parnaíba treinando a tropa e fazendo planas para invadir o Ceará, onde pretendia restaurar o regime português e depois se juntar ao Brigadeiro Madeira de Melo, aquartelado em Salvador, para expulsar o General Labatut, da Bahia, visando garantir a integridade territorial do Brasil em favor de Portugal.


Enquanto ele se despreocupava do Piauí e sonhava em debelar a independência das outras províncias, os oeirenses aderiram ao movimento emancipacionista e, concomitantemente, as lideranças parnaibanas começaram a retornar com tropas cearenses para a região de Campo Maior, onde já havia se tranformado num verdadeiro baril de pólvora pronto para explodir a qualquer momento.


Ao tomar conhecimento da nova conjuntura de Oeiras e dos atos de rebeldia de outras localidades, inclusive da vila de Piracuruca, onde no dia 22 de janeiro de 1823, o alferes Leonardo de Carvalho Castelo Branco prendeu o destacamento fiel ao governo lusitano e, dirigindo-se ao adro da Igreja Matriz de N. S. do Carmo, proclamou a Independência do Piauí, o comandante das armas tinha a opção de embarcar no Brigue Infante Dom Miguel, que se encontrava no porto de Parnaíba à sua disposição, e seguir para São Luís do Maranhão ou diretamente para Lisboa, mas na qualidade de um veterano de guerra, experimentado em inúmeros combates, inclusive nas lutas napoleônicas, preferiu marchar contra os separatistas,  colocando acima de tudo o patriotismo e o seu dever de defender os interesses de Portugal.

E agindo assim, em 01 de março, contando com o reforço dos soldados maranhenses de São Bernardo e de Carnaubeiras, enviados pelo governo do Maranhão, passou a tropa em revista e começou a fazer o caminho de volta para restabelecer a ordem e forçar os independentes a se submeterem à Constituição Portuguesa e a Dom João VI.


No retornou, ás pressas, para Oeiras, onde pretendia jugular o movimento e retomar as rédeas do governo, Fidié teria que romper o cerco das tropas independentes estacionadas nas vilas de Piracuruca e Campo Maior.


Quando o comandante da Divisão Cearense, aquartelada em Piracuruca, ficou sabendo da aproximação de Fidié, reuniu os oficiais para uma tomada de posição, e fingindo-se de doente anoiteceu e não amanheceu. Foi o primeiro a fugir. A partir daí começou a debandada. Pouco tempo depois não restava mais nenhum dos membros daquele contingente composto por centenas de cearenses. 

Com exceção de alguns que foram para Campo Maior, os demais, após saquearem a Vila, fugiram para a Serra Grande. Essas e outras atitudes dos soldados cearenses levaram o historiador Odilon Nunes a afirmar: “Das forças do Ceará vindas em auxílio do Piauí, a maior parte era de soldados bisonhos, indisciplinados e desarmados que fugiam ao primeiro contato com o inimigo”.


Seguindo sua marcha para a capital da Província com o intuído de retomar o governo e restabelecer a ordem, a 10 de março, três dias antes do Confronto do Jenipapo, ao se aproximar da Vila de Piracuruca, Fidié usando de sua larga experiência, despachou um pelotão para fazer o reconhecimento da área. 

O pelotão composto por cerca de oitenta cavaleiros ao avançar alguns quilômetros, encontrou, por mero acaso, um contingente de cerca de sessenta, cearenses, montados e bem armados, já em retirada para Campo Maior, nas cercanias da Lagoa do Jacaré, tendo como comandante o Capitão José Francisco de Sousa. Travou-se então um rápido combate, terminando com insignificante baixa para ambos os lados e a fuga dos soldados legalistas que retornaram ao encontro do Governador das Armas. Enquanto isso, os soldados cearenses seguiram para Campo Maior que na ocasião já havia se transformado no principal centro militar dos revolucionários. E lá engrossaram o contingente que três dias depois participaria da Batalha do Jenipapo.


 Fonte: Adrião Neto

Adrião Neto – Dicionarista Biográfico, historiador, poeta e romancista. Autor de várias obras e da ideia da inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo (13 de março de 1823) na Bandeira do Piauí (Lei nº 5.507, de 17/11/2005, de iniciativa do Deputado Homero Castelo Branco).

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