Reflexão

"Se alguém lhe disser que seu trabalho não é o de um profissional, lembre-se:

amadores construíram a Arca de Noé e profissionais, o Titanic."

Um dia a lágrima disse ao sorriso: “Invejo-te porque vives sempre feliz”.

O sorriso respondeu: “Engana-se, pois muitas vezes sou apenas o disfarce da tua dor”.


domingo, 23 de junho de 2013

Dança dos manifestantes sobre o Congresso foi um reflexo do descontentamento com os políticos

A Casa se desconectou do povo — que agora quer entrar.
Símbolo da democracia, oCongresso virou alvo.
Não pelo o que representa, mas pelo que faz no dia a dia.
Na segunda-feira, teve a rampa e a cobertura tomadas por jovens. 

Na quinta, mais de 30 mil pessoas reforçaram o coro por mudanças, exposto na frase que resume a dissonância entre o parlamento e os brasileiros:

— Não nos representam.
 
O vigor da mobilização atingiu também o governo, que enfrenta problemas de relação com a própria base de apoio. 
Os cartazes e faixas erguidos em Brasília na semana que passou mostram uma agenda diferente da observada nas votações da Câmara e do Senado.

As ruas clamam por investimentos em educação, porém o projeto do governo Dilma Rousseff que destina os bilhões dos royalties do petróleo para qualificar ensino e pesquisa corria o risco de ser engavetado. 

Já a proposta de emenda à Constituição (PEC) 37, meio de castrar o poder de investigação criminal do Ministério Público, seria votada na próxima quarta. Acabou adiada no grito. 
— O que é prioridade no Congresso não é a nossa prioridade — diz a estudante Amanda Lucchi. 
Aos 17 anos, a adolescente estava na multidão que subiu a rampa do prédio projetado por Oscar Niemeyer. Na terça-feira, dia seguinte à cena histórica, parlamentares e assessores se reuniam pelo Salão Verde da Câmara na tentativa de decifrar os motivos dos protestos. 

Contudo, no mesmo dia, a Comissão de Direitos Humanos, presidida por Marco Feliciano (PSC-SP), aprovou o polêmico projeto da “cura gay”, criticado pelos manifestantes. 
— O Congresso mostrou a falta de conexão com os representados. Essa é a raiz da crise — diz Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador da UFRJ.

O descompasso também é criticado pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que vê o Congresso isolado em torno de interesses dos próprios parlamentares e de seus financiadores de campanha. 
O projeto que limita a criação de novos partidos, concebido sob medida para reeleição da presidente, tramita como se fosse prioridade nacional, enquanto a desoneração do transporte coletivo é debatida há uma década, sem avanços.

— A gente discute o lobby dos empresários e os desejos do governo. Não se dá ouvido para o que realmente interessa aos brasileiros — afirma Wyllys.

Captar os anseios, em especial dos jovens, é um desafio, analisa o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Deputados e senadores nasceram e entraram na política em um mundo analógico, diferente do atual, conectado e digital.

— São os assessores que estão nas redes sociais. E existe uma dificuldade de compreender os pedidos que saem dessa plataforma — observa Prando.

Ícone dos caras-pintadas, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) admite a crise de representação. Ele incentiva o uso do mesmo mecanismo que recolocou os brasileiros nas ruas: a internet. 
— A participação das pessoas na rotina do Congresso precisa ser mais direta. É preciso aproveitar que elas estão conectadas para que ajudem a criar uma pauta mais alinhada à realidade. 
Pressionados, deputados e senadores tentam reagir. A votação da PEC 37 foi adiada, pode ser arquivada. Projetos focados em saúde e educação ameaçam deixar escaninhos — um ato insuficiente, na visão do professor Teixeira.

Para o historiador, é preciso votar e rejeitar a PEC, cassar os deputados condenados no julgamento do mensalão, aprovar o marco civil da internet e o destino dos royalties para educação. As ações indicariam uma reaproximação entre Congresso e povo. 
Parlamentares mais experientes concordam com a urgência de ações imediatas, como a votação dos royalties, mas querem aproveitar o momento para promover a reforma política. Em seu décimo mandato na Câmara, Miro Teixeira (PDT-RJ) defende a convocação de uma Constituinte restrita às reformas política, tributária e do pacto federativo. 
— As pessoas reclamam de impostos, da falta de representação, da falta de investimento em saúde e educação. Toda essa discussão se concentra nessa Constituinte — afirma Miro. 
Um dos decanos do Congresso, Pedro Simon (PMDB-RS) cobra as reformas. Junto de cinco colegas, passou a quinta-feira em vigília no plenário, enquanto a multidão protestava em frente ao Congresso. Simon espera que as manifestações obriguem o Legislativo a adotar uma pauta mais conectada com as necessidades do país: 
— A rua faz o que o Congresso deveria fazer. 
Frases

‘‘É preciso fazer a reforma política que está represada há tanto tempo no Congresso Nacional e proibir o financiamento privado nas campanhas eleitorais". 

Luiz Henrique (PMDB-SC), senador
"O Congresso precisa dar prioridade à votação dos royalties do petróleo para educação e à emenda que destina 10% dos recursos da União para a saúde". 
José Agripino Maia (DEM-RN), senador

"Temos o dever de chamar uma Constituinte restrita a temas como reforma política, do sistema tributário e do pacto federativo. Sem isso, não vamos dar uma resposta ao povo"
Miro Teixeira (PDT-RJ), deputado federal 
À ESPERA
Propostas existem, falta decidir:
— PEC 37: o projeto, que retira do Ministério Público o poder de investigação criminal, é rejeitado pelos manifestantes. A proposta seria votada na próxima quarta-feira, porém a pressão provocou o recuo. 
— Royalties: enviado em regime de urgência pela presidente em maio, o projeto que destina os royalties do petróleo para educação aguarda análise dos parlamentares. O investimento é uma forma de assegurar o investimento de 10% do PIB na área. 
— Pauta conservadora: mesmo sob pressão das ruas, o deputado Marco Feliciano segue na presidência da Comissão de Direitos Humanos, que aprovou o projeto da “cura gay”. 
— Transporte público: o preço da tarifa do transporte coletivo urbano pode sofrer redução se os parlamentares aprovarem o projeto que desonera o setor de impostos.’
Fonte: ZERO HORA

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