Domingo (27), estivemos na nossa
querida cidade de Nazaré do Piauí, acompanhados de grandes vultos acadêmicos da
ALBEARTES: escritor Adrião Neto, José Paraguassu, Tomaz Gomes Campelo e tantos
outros. Fomos levar uma idéia aos vereadores da cidade para que seja criado a
LAUREA DO MÉRITO LEGISLATIVO ESPERANÇA GARCIA.
Essa comenda deverá ser apresentada por
Lei Municipal para condecorar as pessoas que muito contribuíram com a história
e com o progresso da cidade de Nazaré do Piauí. Uma sugestão apresentada em
abril de 2005, que fosse criada uma medalha em nome da escrava guerreira e,
entregue aos homenageados em data de 21-12-2005 Jubileu de Ouro (50) anos de
emancipação política.
Estamos confiantes que agora vai dar
tudo certo, pois o Presidente da Câmara Municipal vereador Carlos Pinheiro, e
os vereadores Gezim, Eufrásio Pinto e Mauricio Cotta se mostram otimistas com a
idéia trazida. Presente também o Prof. Ildamar que foi presenteado por uma das
obras do escritor Adrião, bem como a Dra. Márcia Pinheiro.
Os vereadores irão apresentar o
projeto de lei e, acreditamos que será aprovada, diga-se de passagem, por
unanimidade. E assim sendo os homenageados serão informados para em sessão a
ser realizada em data de 06 de setembro, pois a data que foi escrita a carta,
data que foi criado o dia da CONSCIÊNCIA
NEGRA. Um dos filhos de Nazaré do Piauí Dr. José Messias Leal foi quem
primeiro localizou o livro de autoria do escritor Luiz Mott com a historia da
escrava Esperança Garcia. Veja um pouco sobre sua história e o teor da carta.
Imagem ilustrativa
Esperança Garcia viveu na região
entre Oeiras e Floriano na fazenda de Algodões, a mais ou menos 300 km de
Teresina, essa fazenda juntamente a outras dezenas de estâncias pertenciam à
inspeção de Nazaré, onde é hoje o município de Nazaré do Piauí. Apesar de sua
importância histórica, não se sabe quase nada sobre sua vida, esse descaso da
sociedade é conseqüência principalmente de sua condição de negra escravizada.
Porém ela se destaca por ter sido corajosa a ponto de escrever uma carta ao governador
do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, denunciando os maus tratos
sofridos por ela, seus filhos e companheiras. A carta é datada de 06 de
setembro de 1770.
Afirma-se que a carta original
está em Portugal, e uma cópia foi descoberta no arquivo público do Piauí pelo
pesquisador e historiador Luiz Mott em 1979:“Outra minha importante descoberta
arquivística foi um pequeno documento, uma única página escrita a mão, todo
cheia de garranchos com muitos erros de português: trata-se de uma petição
escrita em 1770, por uma escrava do Piauí, Esperança Garcia. Trata-se do
documento mais antigo de reivindicação de uma escrava a uma autoridade.
Documento insólito! Primeiro por vir assinado por uma mulher, já que mulher
escrever antigamente era uma raridade. As mulheres eram vítimas da estratégia
de seus pais, mantê-las distante das letras, a fim de evitar que elas
escrevessem bilhetinhos para os seus namorados. Segundo, por se tratar de uma
petição escrita por uma mulher negra.”(Mott).
Esse documento serviu de inspiração
para diversas manifestações contemporâneas como o grupo de mulheres que
trabalham pela cidadania da mulher negra piauiense, e recebe o nome de
Esperança Garcia assim como a maternidade de Nazaré do Piauí e a data desta
carta é o dia estadual da consciência negra no Piauí desde 1999.
Segue abaixo o modelo original da
carta e sua versão atualizada:
CARTA:
"Eu
sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada.
Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois,
aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo
mto mal. A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem
sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço
esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado
abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei. A segunda estou eu e mais
minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por
batizar. Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos
olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde
elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.
De
V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”
CARTA TRADUZIDA:
"Eu sou uma escrava de V.S.a
administração de Capitão Antonio Vieira de Couto, casada. Desde que o Capitão
lá foi administrar, que me tirou da Fazenda dos Algodões, aonde vivia com meu
marido, para ser cozinheira de sua casa, onde nela passo tão mal. A primeira é
que há grandes trovoadas de pancadas em um filho nem, sendo uma criança que lhe
fez extrair sangue pela boca; em mim não poço explicar que sou um colchão de
pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo, peada, por misericórdia de
Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar a três
anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo que peço a V.S. pelo
amor de Deus e do seu valimento, ponha aos olhos em mim, ordenando ao
Procurador que mande para a fazenda aonde ele me tirou para eu viver com meu
marido e batizar minha filha.
De V.Sa. sua escrava, Esperança
Garcia"
Parabéns pela postagem. Gostei.
ResponderExcluirVou compartilhar.