Segundo secretário municipal de Planejamento, João Alberto Monteiro, apenas 17% das casas da capital têm captação de esgoto. |
A equipe encontrou muita gente obrigada a conviver com esgoto a céu aberto. A primeira coisa que muitos veem quando abrem a porta é uma valeta com água de esgoto correndo. Os moradores têm que conviver com as doenças. Teresina nunca investiu o suficiente em saneamento básico, por isso chegou a essa situação que é mostrada pela estudo do IBGE.
Decolamos do Aeroporto Internacional de Guarulhos para um voo até Teresina, a capital do Piauí. Procuramos sinais de uma realidade revelada pelo IBGE, com base no Censo 2010. Já somam 18 milhões os brasileiros convivendo com esgoto a céu aberto.
“Ruim, ruim. Péssimo, péssimo, péssimo. Nós estamos aqui porque não tem jeito. Porque nós fomos esquecidos”, reclama o aposentado José Camilo de Moura.
Segundo o IBGE, 11% das casas brasileiras ficam em quarteirões sem sistema de esgoto. Os maiores percentuais de moradias nessas condições ficam nas cidades médias, com populações entre 500 mil e um milhão de habitantes. Em Teresina, que tem pouco mais de 800 mil moradores, 70% das casas têm esse problema.
O secretário municipal de Planejamento, João Alberto Monteiro, apresenta um número ainda pior. Segundo ele, apenas 17% das casas de Teresina têm captação de esgoto. Algumas só não despejam na rua porque usam fossas improvisadas no fundo do quintal.
“A cidade de Teresina, como todas as cidades, não é um privilégio daqui, é cultural, ela relega esse tipo de ação, de saneamento. Acredito que em dois anos estaremos chegando próximo a 50% de cobertura”, afirma o secretário.
Por enquanto, os moradores convivem com o mau cheiro e o risco de doenças. O caminhão de lixo não chega na rua da dona de casa Jucélia da Conceição, na Vila Irmã Dulce. Ela tem que levar até a carroça e, no caminho, atravessa uma poça de esgoto que se formou na porta de casa. “Os nossos filhos vivem doente, com coisa nos pés, cheios de ferida”, diz.
De uma passarela na Vila da Paz é possível ver bem um exemplo do que acontece com o esgoto da cidade. A passarela liga os dois lados de um bairro que tem 25 mil moradores. O esgoto das casas corre pelas ruas e cai em uma grande vala aberta pela erosão.
Quando chove, a água vai lavando todo o lixo, corre pelo mato e cai no rio. No caminho, antes de chegar ao rio, o esgoto atravessa o bairro e obriga os moradores a atravessar pelas pedras soltas, às vezes até pisando na água.
Maria passa por lá pelo menos duas vezes por dia com o filho de cinco meses. “Pisa, tem que pisar, não tem outro jeito”, afirma. As consequências são graves. O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Carlos Henrique Nery, explica que uma poça de esgoto pode ser foco de muitas doenças.
“Podemos ter larva do aedes aegypti, que transmite a dengue. Ele se adaptou às condições urbanas e mostra como essas doenças podem se adaptar às condições precárias de saneamento e de higiene”, explica.
“Na minha rua não escapou ninguém. Todo mundo adoeceu de dengue”, revela uma moradora.
As justificativas da prefeitura para a ausência de saneamento básico vão da falta de dinheiro à falta de hábitos de higiene da população.
Para o médico, o caso é de urgência. Grande parte do Brasil sofre com doenças que não estão mais escondidas no mato.
“No passado, a gente pensava na malária, na esquistossomose, na doença de Chagas. Hoje elas estão aqui, junto da gente”, acrescenta Carlos Henrique Nery. ”Então esse é um desafio nosso, como lidar com situações desse tipo sem nem sempre ter recursos disponíveis para isso.”
FONTE: http://www.liberdadenews.com
alonsocosta.blogspot.com
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