Redação de estudante carioca vence concurso da
UNESCO com 50.000 participantes - 01/09/2008
Tema: Como vencer a pobreza e a desigualdade
"PÁTRIA
MADRASTA VIL"
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância
de inexistência. . Exagero de escassez... Contraditórios? Então aí está! O novo
nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil
nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência
de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal
engendrada - e friamente sistematizada - de contradições. Há quem diga que
"dos filhos deste solo és mãe gentil", mas eu digo que não é gentil
e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais
para madrasta vil. A minha mãe não "tapa o sol com a peneira". Não me
daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação
básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que
me restaria a liberdade apenas para morrer de fome.
Porque a minha mãe não iria querer me enganar,
iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do
problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada
me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de
oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A
minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e
esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! É disso
que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse
sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que
transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma
contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a
pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela
ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa
participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não
modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas
na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo
para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso? Eu acredito
profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que
não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e
desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não
administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um
Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de nossa própria existência esteja
ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem
egoísmo. Cada um por todos... Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se
tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe
gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como
gente... Ou como bicho?
Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos,
estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com
outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde
recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (Unesco) por uma redação sobre "Como vencer a pobreza e a
desigualdade". A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi
incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A
publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.
Fonte: Enviada por - Magno Pires Alves Neto
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