Antes
de falar sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, que foi um dos
maiores movimentos armados da história do Brasil, é preciso voltar à
República Velha (1889-1930). Durante esse período, formou-se uma aliança
entre os estados mais ricos e influentes do país na época, São Paulo e
Minas Gerais, cujos representantes se alternavam na presidência da
República naquilo que ficou conhecido como a Política do Café com Leite.
Em
1930, rompendo essa aliança, o então presidente Washington Luís,
representante dos paulistas, indica o governador de São Paulo Júlio
Prestes como seu sucessor, que venceu as eleições. As oligarquias
mineiras não aceitam o resultado e, por meio de um golpe de estado
articulado com o Rio Grande do Sul e a Paraíba, alçam Getúlio Vargas no
poder.
Getúlio
começou promovendo mudanças de maneira autoritária, sem consulta
eleitoral. Fechou o Congresso Nacional, anulou a Constituição de 1891 e
depôs governadores de diversos estados, para os quais nomeou
interventores. As medidas desagradaram profundamente as elites paulistas
tradicionais, ligadas ao Partido Republicano Paulista (PRP), que
passaram a fazer acirrada oposição a Vargas.
Já
a partir de 1931, se junta a essa elite deposta um “grupo mais
moderno”, que exigia do governo a criação de uma carta magna que regesse
a legislação do país – algo que o presidente vinha adiando –, além de
eleições gerais para presidente da República. Ao mesmo tempo MANem que
se formava esse grupo opositor, fortaleciam-se em São Paulo os chamados
tenentistas, constituídos não apenas por militares, mas também por civis
que agiam sob sua liderança. Eles se reuniam no Clube Três de Outubro e
apoiavam as ações do governo.
Obelisco de São Paulo no Parque Ibirapuera construído em homenagem aos heróis da Revolução Constitucionalista.
Houve diversas brigas de rua entre os estudantes de direito do Largo São
Francisco e esse grupo getulista, os tenentistas, até que, no dia 23 de
maio, durante um ato político no centro da cidade, a polícia coibiu os
manifestantes, ocasionando a morte de quatro estudantes. Em homenagem a
esses quatro jovens, o movimento passou a chamar-se MMDC – iniciais de
Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, os mortos – e ampliou sua base de
apoio entre a classe média. Essas mortes foram o estopim que deu início,
em 9 de julho de 1932, à Revolução Constitucionalista.
Com
a ajuda dos meios de comunicação em massa, o movimento ganhou apoio
popular e mobilizou 35 mil homens pelo lado dos paulistas, contra 100
mil soldados do governo Vargas. Havia a possibilidade de que outros
estados viessem em socorro ao governo paulista, mas ele ficou isolado e,
com isso, se desenvolveu uma série de batalhas.
O
estado se mobilizou: milhares de pessoas de todas as classes sociais
doaram prataria, joias e alianças para ajudar financeiramente a
revolução, e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp –
incumbiu as empresas brasileiras de fabricarem armamento militar.
Organizações civis forneciam fardas, auxílio e alimentos e ajudavam na
inscrição de voluntários. Todo o estado, unido, trabalhava com garra
pela vitória da causa dita constitucionalista.
Os
comandantes militares das tropas paulistas, Isidoro Dias Lopes,
Bertoldo Klinger e Euclydes Figueiredo, sabiam que as forças federais
eram superiores, mas contavam com a união e a ajuda garantida por outros
estados, como o Rio Grande do Sul e Minas Gerais. No entanto, o apoio
não chegou, e São Paulo se viu cercado pelas tropas legalistas.
Ao
todo, foram quase três meses de batalhas sangrentas, encerradas em 2 de
outubro daquele mesmo ano, com a derrota militar dos
constitucionalistas. Moralmente, porém, em termos de denúncia política, o
movimento foi vitorioso, porque, mal terminado o conflito, o governo
federal convocou eleições para uma Assembleia Constituinte, que
promulgou a Constituição do Brasil em 1934.
Foi
também quando, pela primeira vez no país, as mulheres participaram do
processo eleitoral. Contudo, o termo “revolução” para o movimento
constitucionalista não é muito adequado ao que ele se propunha, pois, na
verdade, desejava-se a normatização da legislação e do processo
eleitoral, e não uma mudança das relações de poder ou qualquer coisa que
significasse uma limitação ao processo de desenvolvimento capitalista.
Alguns historiadores, inclusive, consideram o movimento conservador e
antirrevolucionário: era uma elite derrotada que queria voltar ao poder e
encontrou nesse movimento um pretexto para isso.
VIVA OS BRAVOS PAULISTAS QUE LUTARAM CONTRA OS OPRESSORES EM 32.
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