Mais vale a verdade do que todos os artifícios
mirabolantes e subterfúgios, que escondem a realidade sobre o manto diáfano dos
diletantes e bem dizentes. A experiência de voltar a viver as misérias e
virtudes do passado é mais forte que a vontade de esquecer. (António Neto de
Paula, professor e historiador português, mestre em História do Brasil, in
Prefácio de Raízes do Piauí).
Depois de sufocar o movimento emancipacionista de 19
de outubro de 1822 e obrigar os parnaibanos a renovar o juramento de fidelidade
ao rei dom João VI e á Constituição Portuguesa, o Comandante das Armas do
Piauí, João José da Cunha Fidié, permaneceu em Parnaíba treinando a tropa e
fazendo planas para invadir o Ceará, onde pretendia restaurar o regime
português e depois se juntar ao Brigadeiro Madeira de Melo, aquartelado em
Salvador, para expulsar o General Labatut, da Bahia, visando garantir a
integridade territorial do Brasil em favor de Portugal.
Enquanto ele se despreocupava do Piauí e sonhava em
debelar a independência das outras províncias, os oeirenses aderiram ao
movimento emancipacionista e, concomitantemente, as lideranças parnaibanas
começaram a retornar com tropas cearenses para a região de Campo Maior, onde já
havia se tranformado num verdadeiro baril de pólvora pronto para explodir a
qualquer momento.
Ao tomar conhecimento da nova
conjuntura de Oeiras e dos atos de rebeldia de outras localidades, inclusive da
vila de Piracuruca, onde no dia 22 de janeiro de 1823, o alferes Leonardo de
Carvalho Castelo Branco prendeu o destacamento fiel ao governo lusitano e,
dirigindo-se ao adro da Igreja Matriz de N. S. do Carmo, proclamou a
Independência do Piauí, o comandante das armas tinha a opção de embarcar
no Brigue Infante Dom Miguel, que se encontrava no porto de Parnaíba à sua
disposição, e seguir para São Luís do Maranhão ou diretamente para Lisboa, mas
na qualidade de um veterano de guerra, experimentado em inúmeros combates,
inclusive nas lutas napoleônicas, preferiu marchar contra os
separatistas, colocando acima de tudo o patriotismo e o seu dever de
defender os interesses de Portugal.
E agindo assim, em 01 de março, contando com o reforço
dos soldados maranhenses de São Bernardo e de Carnaubeiras, enviados pelo
governo do Maranhão, passou a tropa em revista e começou a fazer o caminho de
volta para restabelecer a ordem e forçar os independentes a se submeterem à
Constituição Portuguesa e a Dom João VI.
No retornou, ás pressas, para Oeiras, onde pretendia
jugular o movimento e retomar as rédeas do governo, Fidié teria que romper o
cerco das tropas independentes estacionadas nas vilas de Piracuruca e Campo
Maior.
Quando o comandante da Divisão Cearense, aquartelada
em Piracuruca, ficou sabendo da aproximação de Fidié, reuniu os oficiais para
uma tomada de posição, e fingindo-se de doente anoiteceu e não amanheceu. Foi o
primeiro a fugir. A partir daí começou a debandada. Pouco tempo depois não
restava mais nenhum dos membros daquele contingente composto por centenas de
cearenses.
Com exceção de alguns que foram para Campo Maior, os demais, após
saquearem a Vila, fugiram para a Serra Grande. Essas e outras atitudes dos
soldados cearenses levaram o historiador Odilon Nunes a afirmar: “Das forças
do Ceará vindas em auxílio do Piauí, a maior parte era de soldados bisonhos,
indisciplinados e desarmados que fugiam ao primeiro contato com o inimigo”.
Seguindo sua marcha para a capital da Província com o
intuído de retomar o governo e restabelecer a ordem, a 10 de março, três dias
antes do Confronto do Jenipapo, ao se aproximar da Vila de Piracuruca, Fidié
usando de sua larga experiência, despachou um pelotão para fazer o
reconhecimento da área.
O pelotão composto por cerca de oitenta cavaleiros ao
avançar alguns quilômetros, encontrou, por mero acaso, um contingente de cerca
de sessenta, cearenses, montados e bem armados, já em retirada para Campo
Maior, nas cercanias da Lagoa do Jacaré, tendo como comandante o Capitão José
Francisco de Sousa. Travou-se então um rápido combate, terminando com
insignificante baixa para ambos os lados e a fuga dos soldados legalistas que
retornaram ao encontro do Governador das Armas. Enquanto isso, os soldados
cearenses seguiram para Campo Maior que na ocasião já havia se transformado no
principal centro militar dos revolucionários. E lá engrossaram o contingente
que três dias depois participaria da Batalha do Jenipapo.
Fonte: Adrião Neto
Adrião Neto – Dicionarista Biográfico,
historiador, poeta e romancista. Autor de várias obras e da ideia da inclusão
da data histórica da Batalha do Jenipapo (13 de março de 1823) na Bandeira do
Piauí (Lei nº 5.507, de 17/11/2005, de iniciativa do Deputado Homero Castelo
Branco).
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