Todo rei é um homem. E como tal possui defeitos que se tornam mais acentuados para quem os conhece justamente porque são os defeitos de um rei. A arte, em especial a música, está cheia de reis e é raro que nós meros mortais tenhamos a oportunidade de conhecê-los de verdade. Em "Gonzaga - De Pai para Filho", o diretor Breno Silveira oferece um olhar mais aprofundado sobre o Rei do Baião.
Conhecido e aprovado pela cinebiografia de Zezé de Camargo e Luciano, que levou milhares de pessoas ao cinema, Breno volta com um filme melhor sobre a vida e a obra de um dos ícones da música brasileira e representante da cultura nordestina. Mas quem for ao cinema vai conhecer um lado pouco visto de Luiz Gonzaga - homem batalhador, destemido e um pai omisso e distante que paga para suprir suas faltas.
É justamente sobre esse última nuance que se desdobra o enredo do filme quando o filho Gonzaguinha vai em busca do pai para aparar arestas doloridas. Breno Silveira não tem medo de mostrar o embate nem santifica Gonzagão. A melhor cena do filme é justamente uma troca de acusações e ofensas entre Gonzaguinha e Seu Lua. Entre um confronto e outro, conhecemos a trajetória do nordestino de Exu que introduziu os ritmos nordestinos em um país que ignorava o que não fosse Rio, São Paulo ou exterior.
A falta de bons e grandes atores no elenco em "De Pai para Filho" é suprida por uma narrativa empolgante que soube peneirar da vasta biblioteca de causos do Rei do Baião os acontecimentos que ajudaram a construir sua carreira e persona artística.
A exceção é Júlio Andrade, na pele de Gonzaguinha, numa atuação no estilo "um espírito baixou em mim". Ele é o ator sobre o qual Breno Silveira erigiu sua nova obra. Roberta Gualda, que vive Helena, a segunda esposa de Gonzaga, se sobressai por sua atuação forte como a odiada madrasta de Gonzaguinha. O piauiense Chambinho do Acordeon se esforça com honestidade para entregar um Gonzaga mas deixa escapar que sua praia é mesmo a música.
"De Pai para Filho" é um bom filme, que agrada a qualquer público, fãs ou não de Luiz Gonzaga. O diretor já havia conseguido a mesma façanha em "2 Filhos de Francisco". Breno Silveira foi feliz em não ter medo de expor o homem por trás do mito e que só agora o cinema pode revelar.
Fonte: cidadeverde.com
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