Em 3 de dezembro de 1967, o cirurgião sul-africano Christiaan Barnard fazia o primeiro transplante de coração humano. O paciente só sobreviveu 18 dias, morrendo de infecção.
O coração de uma pessoa morta palpitou pela primeira vez no peito de outro humano às 5h25 de 3 de dezembro de 1967, na África do Sul. O primeiro transplante de coração, realizado no hospital Grote-Schuur, na Cidade do Cabo, foi bem sucedido. O chefe da equipe era o professor Christiaan Barnard, então com 44 anos de idade.
"Nós, na África do Sul, tivemos que decidir o que fazer. Todos os dias víamos pacientes que não podiam ser ajudados. A única possibilidade de ajudá-los era o transplante de coração", disse o cardiologista. Barnard, que, de repente, se tornara mundialmente famoso, morreu em setembro de 2001, aos 78 anos de idade.
Morte prematura
Louis Waskansky, de 53 anos, foi o primeiro homem a receber o coração de um estranho. O órgão transplantado por Barnard e sua equipe, numa operação de 5 horas, era de uma jovem de 25 anos, que tinha morrido num acidente. Mas Waskansky faleceu 18 dias depois da cirurgia histórica, em consequência de uma infecção pulmonar. A luta dos médicos para combater a rejeição do organismo reduziu muito o sistema imunológico do paciente.
Um mês depois da operação espetacular, Barnard fez o segundo transplante de coração e, desta vez, com grande sucesso: o dentista Philip Blaiberg viveu um ano e sete meses com o coração novo.
Enormes obstáculos morais
A notícia do transplante se propagou como fogo. O acontecimento era até então inconcebível, revolucionário, embora há muito tempo se transplantassem rins, córneas e os ossos do sistema auditivo. Mas havia uma grande diferença: os obstáculos morais levantados mundo afora contra o transplante de coração. Ainda dominava naquele tempo a crença de que não se tratava de um órgão como os demais, mas o lugar da alma, o núcleo humano, o centro da personalidade.
"A partir de um determinado momento, a gente é apenas um pesquisador e tem que se ater ao fato de que o coração tem apenas a função de bombear o sangue. Um transplante de coração não é mais do que um transplante de rins ou de fígado", justificou Barnard.
O grande problema na época era a rejeição. Um organismo se defende contra todo e qualquer corpo estranho que lhe é implantado. O perigo da rejeição era e foi durante muito tempo o árbitro para o sucesso ou o fracasso de um transplante de coração.
Problema não era técnico
Na atualidade, a repulsa orgânica está bastante reduzida, graças ao efeito de medicamentos desenvolvidos especialmente com essa meta. A propósito, o cardiologista Ernst Reiner de Vivie, da Universidade de Colônia, afirma:
"O problema nunca foi técnico. No coração, tem-se apenas que ligar dois vasos entre si. O problema sempre foi a rejeição. Mas já estamos dominando isso tão bem que a taxa de mortalidade situa-se abaixo de 10% no primeiro ano depois do transplante e isso já é um grande êxito."
Várias equipes de cirurgiões seguiram o ato pioneiro do sul-africano Barnard. Nos EUA, por exemplo, o centro de transplantes Palo Alto e Stanford tentava há muito tempo transplantar corações.
"Não podemos esquecer que o professor Shamway e sua equipe, na Stanford University da Califórnia, são os verdadeiros pais do transplante de coração, pois eles fizeram a operação em animais durante anos. Christiaan Barnard tinha sido um membro dessa equipe, como hóspede da África do Sul, e aprendeu como se faz transplante", destacou o catedrático alemão de Vivie.
Apenas sete semanas depois do grande sucesso de Barnard na África do Sul, o cardiologista americano Shumway fez seu primeiro transplante de coração. Na ocasião, um colega perguntou a ele como se sentia. Shumway respondeu: " Você se lembra do segundo homem que alcançou o Polo Norte?"
Fonte: Daniel Campos de Oliveira
"Não existe nada tão comovente - nem mesmo atos de amor ou ódio - como a descoberta de que não se está sozinho"
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