O
Escritor, Dicionarista biográfico, historiador, poeta e romancista Adrião José
Neto mais uma vez é homenageado. Agora foi na cidade de Campo Maior, onde
recebeu o Título de Sócio Honorário da Academia Campomaiorense de Artes e
Letras.
Vários
acadêmicos marcaram presenças, entre eles o Presidente da Albeartes de Floriano
José Bruno dos Santos, José Paraguassu e Maria Gonçalves de Carvalho.
Abaixo
transcrevemos o Discurso do notável Escritor Adrião Neto, onde ele se sente bem
na “Terra dos Carnaubais” e de “Berço dos Heróis”,
Discurso de Recebimento do Título de Sócio Honorário
da Academia
Campomaiorense de Artes e Letras
Introdução
Ao usar este gibão e este chapéu de couro, presto uma
singela homenagem aos bravos vaqueiros e roceiros da macrorregião de Campo
Maior, que lutaram na sangrenta Batalha do Jenipapo.
E assim trajado com este terno de couro, sinto-me tocado
pela varinha mágica da Fada Madrinha, que retroagindo no tempo transporta-me
para o povoado Lagoa do Camelo, na zona rural de Luís Correia, onde na minha adolescência
brincava de vaqueiro esquipando no meu cavalinho de talo de carnaúba.
Esta reminiscência da minha infância mostra que desde
criança eu já admirava e valorizava a figura emblemática do vaqueiro, este
baluarte da colonização do Piauí, a quem devemos praticamente tudo, inclusive a
nossa Independência.
Excelentíssimos Senhores
representantes do Prefeito e da Presidente da Câmara Municipal de Campo Maior;
Excelentíssimo Senhor Presidente da
Assembleia Legislativa do Estado do Piauí, Deputado Themístocles Filho, em nome
de quem estendo minha saudação aos Excelentíssimos Senhores Deputados Antônio
Fêlix e Aluízio Martins, dignos representantes da “Terra dos Carnaubais” no
Parlamento Estadual;
Excelentíssimo Senhor Presidente da
Academia Campomaiorense de Artes e Letras, Escritor João Alves Filho, um dos
baluartes de cultura de Campo Maior, onde também se destaca em outras áreas e
atividades, inclusive na Maçonaria, e nos Lions, que recentemente o contemplou
com o honroso Título de “Companheiro Internacional Melvin Jones”;
Excelentíssimo Senhor Escritor José
Ribamar Garcia, digno representante da Academia Piauiense de Letras;
Excelentíssimo Senhor Presidente da
Academia de Letras e Belas-Artes de Floriano e Vale do Parnaíba, Escritor José
Bruno dos Santos, em nome de quem estendo minha saudação a todos os dirigentes
de instituições culturais e a todos os escritores aqui presentes;
Excelentíssimo Senhor Escritor
Homero Castelo Branco, Deputado Estadual por várias legislaturas, que em seu
último mandato conseguiu a proeza de aprovar um dos seus mais importantes
Projetos de Lei, o “Projeto” que deu origem à Lei nº 5.507, de 17/11/2005,
inserindo a data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Estado do
Piauí, em nome de quem cumprimento os membros da mesa e todas as autoridades;
Excelentíssima Musicista, Poetisa,
Cantora e Compositora Maria de Carvalho Gonçalves, em nome de quem cumprimento
a comitiva de Floriano e todos os convidados;
Excelentíssima Professora Maria de
Fátima de Sousa Santos, minha esposa, em nome de quem cumprimento os meus
familiares: Adrisa, Adrício, Adryann, Caleb, Betulina e Maria Sales, aqui
presentes;
Meus senhores e minhas senhoras:
Nesta data histórica em que se
comemora os 192 anos da Batalha do Jenipapo, uma das mais sangrentas lutas em
prol da nossa Independência, tendo sido inclusive o fato marcante que a
consolidou, constituindo-se numa das mais brilhantes páginas da História do
Brasil, escrita com o sangue dos piauienses, cearenses e maranhenses,
especialmente dos vaqueiros e roceiros da região de Campo Maior, é motivo de
satisfação e contentamento comparecer a esta solenidade cívica e cultural para
receber o honroso Título de Sócio Honorário da Academia Campomaiorense de Artes
e Letras.
Sou muito grato a esta instituição
cultural e aos poderes públicos, legislativo e executivo municipal desta terra
querida e acolhedora, cognominada de “Terra dos Carnaubais” e de “Berço dos
Heróis”, que em reconhecimento à nossa luta pela inclusão da data histórica da
Batalha do Jenipapo na Bandeira do Estado do Piauí, além desta honraria que
acabo de receber, me agraciaram com o Diploma do Mérito Bitorocara, a Comenda
do Mérito Heróis do Jenipapo, o Título de Cidadão Campomaiorense e a inclusão
do meu nome em uma das placas do Memorial Histórico de Campo Maior, erguido na
praça Bonna Primo. Vale ressaltar também, que foi aqui em Campo Maior, no
Monumento aos Heróis do Jenipapo, onde recebi a Comenda do Mérito Renascença do
Piauí, outorgada pelo governo do Estado.
A ideia de homenagear o “13 de Março
de 1823” na Bandeira do Estado do Piauí surgiu em Parnaíba, em plena Praça da
Graça, no início de janeiro de 2005, quando, em debate com um grupo de
intelectuais da cidade, me dei conta da grande injustiça do Estado em relação a
esta data. Pois, como sabemos, o Calendário Histórico do Piauí registra três
datas importantes e todas giram em torno do mesmo fato histórico – a adesão da
então Província do Piauí ao processo de emancipação política do Brasil,
desenrolada em três etapas:
A primeira ocorreu em “19 de Outubro
de 1822”, data em que os parnaibanos comandados pelo Coronel Simplício Dias da
Silva e pelo Juiz de Fora, Dr. João Cândido de Deus e Silva, juntamente com
outras autoridades militares, civis e eclesiásticas, reuniram-se em praça pública fazendo eclodir um movimento
separatista visando a emancipação política do Piauí em relação a Portugal e sua
adesão ao Império de Pedro I.
A segunda aconteceu na madrugada do
dia “24 de Janeiro de 1823”, data em que, depois de um meticuloso planejamento,
aproveitando-se da ausência do Comandante das Armas da Província do Piauí,
Major João José da Cunha Fidié, que havia se deslocado da capital para jugular
o movimento parnaibano, o Brigadeiro Manoel de Sousa Martins (futuro Visconde
da Parnaíba, que também foi vaqueiro) e seu irmão Tenente-Coronel Joaquim de
Sousa Martins, auxiliados por vários oficiais, destituíram a Junta de Governo e
proclamaram a adesão de Oeiras ao movimento separatista.
A terceira etapa desse histórico
processo emancipacionista verificou-se em “13 de Março de 1823”, data em que,
aqui nos arredores de Campo Maior, três dias após uma escaramuça contra as
tropas portuguesas, ocorrida nas imediações da Lagoa do Jacaré, os heróis
piauienses, cearenses e maranhenses, especialmente os vaqueiros e roceiros
dessa valorosa região, comandados pelo Capitão Luiz Rodrigues Chaves,
juntamente com o Capitão João da Costa Alecrim e com o Tenente campomaiorense
Simplício José da Silva, dentre outros, participaram da sangrenta Batalha do
Jenipapo, de elevado valor histórico, que, sem dúvida, foi a mais notável de
todas as batalhas travadas em solo nacional em favor da emancipação política do
Brasil.
Naquela ocasião, em Parnaíba, onde
participei da acalorada discussão em que os intelectuais debatiam sobre a
importância das três datas, inclusive sobre a defesa do “19 de Outubro” como o
“Dia do Piauí”, instituído por Lei desde 1937, lembrei-me que o “24 de Janeiro”
também recebeu uma homenagem oficial do Estado, que o incluiu no seu Brasão das
Armas. No mesmo momento veio-me a ideia de homenagear o “13 de Março de 1823”,
na Bandeira do Estado do Piauí.
Assim que retornei para Teresina,
fui ao lançamento do livro da professora Cléa Resende Neves de Melo, na
Academia Piauiense de Letras, onde para minha grata satisfação me encontrei com
o apresentador da obra, o então Deputado Homero Castelo Branco. Ao nos
cumprimentar com um cordial abraço, falei sobre a minha ideia e o pedi para
assumir a paternidade do “projeto” junto à Assembleia Legislativa.
O Deputado abraçou a causa, mas me
incumbiu de escrever uma tese defendendo a ideia, e assim o fiz publicando-a
nos jornais locais, na Revista De Repente, na Internet e, posteriormente, no
livro “A Epopeia do Jenipapo”, de nossa autoria.
Nessa mesma matéria, além de sugerir
à Assembleia Legislativa para incluir o “13 de Março de 1823” na Bandeira do
Estado do Piauí, sugeri também ao governo do Estado para, num ato de resgate à
memória histórica, fazer uma homenagem aos “vaqueiros” e aos “roceiros” da
região de Campo Maior no Monumento aos Heróis do Jenipapo.
Após a repercussão da matéria,
contando com a simpatia dos intelectuais e da opinião pública de Campo Maior e
com uma certa rejeição de alguns setores da intelectualidade e de outros
segmentos da sociedade parnaibana, levamos o rascunho e as justificativas do
projeto ao deputado Homero Castelo Branco, que se valendo da competente
assessoria do seu chefe de Gabinete, Escritor Antenor de Castro Rego Filho e
dos assessores jurídicos da casa, conseguiu dar os necessários encaminhamentos
em tempo recorde e lograr êxito no plenário da Assembleia Legislativa, que o
aprovou por unanimidade.
Logo após a votação do “Projeto de
Lei”, o então governador do Estado, Wellington Dias, que, anteriormente, havia
demonstrado simpatia a essa causa, mudando de lado, encomendou pareceres junto
ao Conselho Estadual de Cultura e aos Departamentos de História das
Universidades Federal e Estadual do Piauí para justificar seu “veto”.
Diante do aparente insucesso,
Antenor e eu continuamos a luta ao lado do Deputado Homero Castelo Branco, que
contando com o apoio das instituições culturais, clubes sociais, entidades de
classe, Lions e Maçonaria de Campo Maior, conseguiu sensibilizar os
parlamentares que, em votação secreta, derrubaram o veto do governador,
garantindo assim a inclusão definitiva da data histórica da Batalha no
Jenipapo, na Bandeira do Estado do Piauí.
A vitória política do Deputado
Homero Castelo Branco nesta luta ferrenha em favor do “13 de Março” é a nossa
vitória, é a vitória do povo de Campo Maior, é a vitória do Piauí, que ao
estampar essa importante data histórica em sua Bandeira faz justiça aos Heróis
do Jenipapo, que num ato de coragem e bravura empenharam suas vidas em prol da
consolidação da independência política do Brasil.
Meus senhores e minhas senhoras,
Revitalizando minha sugestão de
homenagear os vaqueiros e os roceiros da região de Campo Maior no Monumento aos
Heróis do Jenipapo, renovo a proposta, para que o governo do Estado mande
confeccionar duas esculturas em tamanho natural, uma de um vaqueiro e outra de
um roceiro, armados de foice e em posição de luta, postadas, uma ao lado
direito e outra ao lado esquerdo da estátua do Alferes Leonardo de Carvalho
Castelo Branco, o famoso Leonardo da Senhora das Dores, representante da elite
social, intelectual e militar piauiense, que, apesar de sua grande importância
no contexto desse processo emancipacionista, tendo inclusive participado do movimento
parnaibano e proclamado a Independência em Piracuruca e Campo Maior, não lutou
na Batalha do Jenipapo, e somente no segundo governo de Hugo Napoleão seu busto
passou a integrar aquele majestoso monumento.
Aproveitando o ensejo, conclamo as
instituições culturais, aqui presentes, o Lions, a Maçonaria, a Associação
Comercial, os Sindicatos, as Associações de Bairros e outras instituições
locais, incluindo também, pelo menos um representante dos vaqueiros e outro dos
trabalhadores rurais, para que, individualmente, ou sob a coordenação da
Academia Campomaiorense de Artes e Letras, oficiem ao governo do Estado
justificando a relevância da participação desse importante segmento social no
contexto do processo emancipacionista do Piauí, e pedindo-lhe para que repare
uma gritante injustiça histórica, homenageando esses humildes combatentes no
Monumento aos Heróis do Jenipapo.
Convoco também o Presidente da
Assembleia Legislativa, o Prefeito e os representantes de Campo Maior no
Legislativo Municipal e Estadual para que abracem essa causa, pois como
sabemos, até mesmo o “Soldado Desconhecido” é digno de homenagens, quanto mais
esses bravos combatentes que escreveram, com seus próprios sangues, uma das
mais belas páginas da História do Brasil.
O Excelentíssimo Senhor Governador
Wellington Dias, que num canal de TV local, confessou seu sonho de adolescência
em ser vaqueiro, agora tem a oportunidade de se redimir com a memória
histórica, impedindo que as mandíbulas do tempo devorem essa aspiração do povo
de Campo Maior e continuem a arrotar o gosto amargo dessa grande injustiça do
Estado em relação a esses baluartes da colonização do Piauí e da nossa
Independência.
Campo Maior,
Piauí, 13 de Março de 2015.
Adrião Neto – Dicionarista biográfico, historiador, poeta e romancista.
Autor de várias obras e da ideia da inclusão da data histórica da Batalha do
Jenipapo (13 de Março de 1823) na Bandeira do Estado do Piauí – sugestão
devidamente viabilizada pela Assembleia Legislativa (Lei nº 5.507, de
17/11/2005, de iniciativa do Deputado Homero Castelo Branco).
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