A palavra Carnaval
Existem duas teorias fundamentais quanto à origem e significado da
palavra Carnaval A primeira atribui à palavra Carnaval uma origem profundamente
religiosa, com um significado quase oposto ao da diversão, brincadeiras e
malícia a que a associamos hoje em dia.
"Carnaval" teria tido origem
no latim carnevale (carne+vale = carne+adeus), e seria a designação da
"Terça-Feira Gorda" o último dia do calendário cristão em que é
permitido comer carne, uma vez que, no dia seguinte, inicia-se a Quaresma. Já a
segunda teoria é peremptória em afirmar que a palavra Carnaval vem de Carrus
Navalis, por influência das festas em honra de Dionísio, onde um carro,
com um enorme tonel, distribuía vinho ao povo na Roma antiga.
Muitas das celebrações carnavalescas são bastante mais antigas do que a
própria religião cristã, tendo sido alvo de diferentes manifestações ao longo
da história. No fundo, todos os carnavais são reminiscências das festas
dionisíacas da Grécia Antiga, dos bacanais de Roma e dos bailes de máscaras do
Renascimento. Mas, para ficarmos com uma ideia geral de como foi a evolução do
Carnaval, o Comezainas preparou uma pequena cronologia:
Cronologia do Carnaval
· 4000 a.C. Festas agrárias realizadas no
antigo Egipto em devoção a Osíris
· 605 a 527. Oficialização do culto a
Dioniso na Grécia, com bacanais e vinho
· século V a.C. Referências de cultos
semelhantes ao de Dioniso entre os Hebreus, a Festa das Sáceas; entre os
Babilónios, a festa da Deusa Herta
· 186 a.C. O Senado Romano reprime os
bacanais, festas em homenagem a Baco, o Dionísio dos Romanos, pois geram
desordens e escândalo
· 325 d.C. O Concílio de Niceia institui
forma de cálculo da data da Páscoa, determinando que a Quaresma se inicia 40
dias antes
· 590 O Papa Gregório I, cria
a expressão dominica ad carne levandas, sucessivamente abreviada até a palavra
Carnaval.
· Idade Média Os franceses comemoravam o
Carnaval com sexo e vinho. Em Itália fazem-se cortejos e as pessoas divertem-se
com batalhas de água, ovos, etc. A Europa divide-se em países que encaram o
Carnaval como celebração religiosa e países em que o Carnaval é a festa da
gula, do vinho, da música e do sexo.
· 1464 O Papa Paulo II incentiva o
Carnaval de Veneza na sua vertente religiosa, mas o Carnaval continua a ser
visto como um período de permissividade associado ao uso das máscaras
transformadoras, alegorias e fantasias.
· 1723 Portugueses introduzem celebrações
do Entrudo no Brasil
O Carnaval no mundo
Carnaval em Portugal: celebração da
vida e da morte.
As tradições carnavalescas específicas de Portugal são um misto de
paganismo e de religiosidade; assim, a par da preparação para a Quaresma, o
carnaval em Portugal bebeu de muitos ritos pagãos ligados a celebrações da
natureza, sobretudo de recomeço da vida purificada na Primavera, com a morte
das culturas antigas e o germinar das novas.
Por isso, enraizado no folclore
português está o enterro de uma personagem, de um animal ou de uma coisa comum
(o mais constante é o Enterro do Bacalhau), para depois se celebrar a vida, com
danças, cortejos, muita cor, luz e música. Assim se vislumbram os motivos
da morte que se projectam da festa da vida que é o Carnaval.
Em muito locais,
associado ao Enterro do Bacalhau, surge um Julgamento, que funciona como sátira
à imposição eclesiástica de abstinência e jejum durante a Quaresma. A origem
destas celebrações perdeu-se no tempo.
Brasil
Os festejos carnavalescos, com o nome de Entrudo, foram levados para o
Brasil pelos portugueses. Durante estes festejos eram levadas a cabo
brincadeiras violentas, com os foliões a lançarem farinha, tintas e água suja
uns aos outros. Estas práticas foram proibidas por lei e, por isso, passaram a
ser utilizadas serpentinas de papel e confetti coloridos.
Aos poucos, o entrudo
português foi sendo adaptado, ao assimilar as tradições africanas. A tradição
dos desfiles tem origem nas reuniões de escravos, que organizavam cortejos com
bandeiras e improvisavam cantigas ao ritmo de marcha. Aos escravos devem-se os
ritmos e instrumentos de percussão usados no Carnaval brasileiro.
No
século XIX, os operários urbanos começaram a juntar-se em grémios (associações
profissionais), que continuaram e desenvolveram a tradição dos desfiles. Ao
mesmo tempo que se desenvolviam as futuras escolas de samba,
institucionalizadas no Rio em 1935, as classes altas importavam da Europa os
sofisticados Bailes de Máscaras e as Alegorias.
Em 1870 foi criado o Maxixe, um
tipo de música específico para o Carnaval. Hoje em dia, o Carnaval é um dos
expoentes máximos do Brasil, atraindo anualmente turistas de todo o mundo.
Carnaval nas Caraíbas
Poucos sabem que o Carnaval é, para os povos das Caraíbas, uma das
celebrações mais importantes do ano. Nesta região, talvez mais do que em
qualquer outra zona do mundo, as influências africanas foram determinantes: no
início do século XIX já tinham sido levados para as Caraíbas cerca de 6 milhões
de escravos africanos. Assim, as raízes do Carnaval nesta região pouco ou nada
têm a ver com a religião católica ou com hábitos europeus mais ou menos
promíscuos oriundos da Idade Média.
Nas Caraíbas, o uso de máscaras, penas,
fantasias e instrumentos de percussão, bem como o hábito dos desfiles, teve
origem em rituais africanos de cura, exorcismo de maus espíritos, obtenção de
sorte e felicidade. Nos Barbados, Jamaica, Granada, Republica Dominicana,
Haiti, Cuba, Saint Martin, Ilhas Cayman, etc., onde os coloridos desfiles são
uma constante, são muitas e variadas as celebrações de Carnaval que podemos
encontrar, muitas delas resultantes da fusão entre rituais africanos e
tradições Europeias.
Os espaços Carnavalescos
O Carnaval tem dois espaços típicos onde é celebrado: nas ruas e nos
salões. Os Carnavais de rua, com desfiles, de que são exemplo os carnavais do
Brasil, Caraíbas e Alemanha, têm uma origem greco-romana e africana popular
muito marcada. Já os Carnavais de salão, com os bailes de máscaras, têm uma
origem mais erudita, como é o caso do de Veneza. Em Portugal encontramos os
dois tipos de espaços, com clara predominância das ruas.
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